PARTE 4 – A CRIANÇA PRECOSE AO MAGO AMADURECIDOA CRIANÇA PRECOCE

[...]O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...[...]
(O guardador de rebanhos – Fragmento II e IX - Alberto Caeiro)
Inicio este texto sobre o Arquétipo da Criança Precoce com a poesia de Fernando Pessoa, uma vez que ela pode representar, de forma simbólica, o homem amadurecido que faz contato com o arquétipo da Criança Precoce.
De acordo com Gillette e Moore (1993), um menino constela o arquétipo da Criança Precoce quando ele se mostra ávido por conhecimentos, quando a sua mente é estimulada e ele quer dividir com os outros o que está aprendendo. Há um brilho em seus olhos e uma energia em seu corpo e em sua mente que mostram que ele está se aventurando pelo mundo das ideias (p. 27). Esse menino (e, mais tarde, o homem) quer saber o “porquê” de tudo. Quer saber o “como”, o “quê” e o “onde” das coisas. Geralmente aprende a ler mais cedo para poder responder às suas próprias indagações e, consequentemente, costuma ser bom aluno, entusiasmado e participativo em sala de aula. Como tem várias competências, como saber desenhar, pintar, tocar instrumentos musicais e interesse em esportes, costuma ser chamado de criança prodígio.
O arquétipo da Criança Precoce é a fonte masculina de curiosidade e impulsos aventureiros, que direciona o homem a explorar, a ser pioneiro do desconhecido, do estranho e do misterioso. Ele se maravilha com o que vê, sabe olhar para o mundo com o encantamento de uma criança. Apesar de ser voltado para dentro e meditativo, é também extrovertido e sabe compartilhar com os outros suas percepções, seus talentos e sua sabedoria. É um ombro amigo, que os amigos buscam para chorar ou pedir ajuda. De acordo com Gillette e Moore (1993), a Criança Precoce existente no homem conserva vivos o seu encantamento e sua curiosidade, estimula o seu intelecto e o faz avançar em direção ao mago amadurecido.
A sombras bipolares do Arquétipo da Criança Precoce, que podem persistir na idade adulta do masculino imaturo, são formadas pelos arquétipos: O Trapaceiro Sabichão e o Palerma, arquétipos que serão abordados nos próximos textos.
Leia também o arquétipo: O Trapaceiro Sabichão em <REI: O ARQUÉTIPO MASCULINO EM SUA PLENITUDE>
Referências Bibliográficas:
Rei, Guerreiro, Mago, Amante – A Redescoberta dos Arquétipos do Masculino. Robert Moore, Douglas Gillette - Rio de Janeiro: Campus, 1993.
Poesia Completa de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa – São Paulo: Cia das Letras,2005, p.19.
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