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REI: O ARQUÉTIPO MASCULINO EM SUA PLENITUDE

Foto do escritor: Maria Angelina MarzochiMaria Angelina Marzochi

Atualizado: 26 de jan.

Parte 1 – A CRIANÇA DIVINA


Segundo Carl Jung, arquétipos são padrões de comportamento e imagens primordiais que residem no inconsciente coletivo, uma camada mais profunda do inconsciente compartilhada por toda a humanidade. Estes arquétipos influenciam nossos pensamentos, emoções e ações, agindo como modelos ou protótipos universais.

Alguns arquétipos são bastante conhecidos, graças ao cinema e à arte de modo geral, como, por exemplo, os arquétipos do Herói, que representa a luta contra adversidades, a coragem e a busca por grandes conquistas; a Sombra, que engloba os aspectos reprimidos e sombrios da nossa personalidade que não queremos reconhecer; o Velho Sábio, que simboliza sabedoria e orientação, muitas vezes personificado como mentor ou conselheiro e, por fim, a Grande Mãe, que reflete nutrição, proteção e fertilidade, mas também pode ter aspectos devorador e destruidor.


Meu objetivo final é falar sobre os arquétipos do Rei, Guerreiro, Mago e Amante segundo Gillette e Moore (1993), mas é importante primeiro falar do arquétipo da Criança Divina – a energia masculina primitiva, no sentido de que se refere a algo que pertence ao período inicial da história ou ao começo de alguma coisa.


Não é novidade para nós que, em quase todas as religiões ao redor do mundo, somos contemplados com histórias de bebês milagrosos. No cristianismo, temos o menino Jesus, nascido de uma virgem. “Nos quadros, ele irradia luz, aureolado pela palha brilhante e macia onde está deitado. Porque ele é Deus, é todo-poderoso” (Gillette e Moore, 1993, p. 18). É também indefeso, e assim que nasce precisa fugir para o Egito para se proteger de Herodes.


Temos também a lenda do nascimento do profeta Zoroastro, com milagres, magos e ameaças à sua vida. No judaísmo, temos Moisés, que nasceu para libertar seu povo, criado como príncipe egípcio, mas logo em seus primeiros dias, sua vida foi colocada em risco por um decreto do faraó e, indefeso, ficou à deriva no rio Nilo, dentro de um cesto de junco até ser recolhido pela filha do faraó.


Há ainda lendas mais antigas que contam sobre Sargão da Acádia, sempre protegido pela deusa Inana contra as tentativas do rei Ur-Zababa de assassiná-lo. Na mitologia grega, temos o bebê Hércules, que esmagou com as próprias mãos a serpente enviada por Hera – a esposa vingativa de Zeus. E, também, já ouvimos histórias sobre o bebê Buda, o bebê Krishna e sobre o bebê Dionísio.


O que se desconhece é que essa figura do Bebê Divino, presente em todas as religiões, também existe dentro de nós mesmos, como nos contam Gillette e Moore (p. 20) ao falarem da psicologia do menino. Todo homem, ao nascer, foi uma Criança Divina, e este arquétipo deve acompanhá-lo por toda a sua existência. Em momentos de crise, acessar essa Criança Divina interna ajudará o homem a acessar a sua criatividade e a sua potência de agir. Os arquétipos que formam a base da infância não desaparecem; o homem amadurecido transcende as forças masculinas da infância, elaborando-as, em vez de demoli-las (p. 15).


Quantos homens-meninos que chegam aos nossos consultórios e tiveram, em seus primeiros dias, uma serpente colocada em seus berços por uma mãe-Hera, e tiveram que lutar prematuramente pela vida? Ou meninos que, ainda muito cedo, tiveram que buscar refúgio no Egito porque, na verdade, seus pais eram Herodes?


Conheço um jovem rapaz que sofreu toda espécie de maus-tratos na primeira infância, e quando seus pais o colocaram num cesto de junco, deixando-o à deriva no rio da vida, lá na outra margem, estava a sua avó paterna para recebê-lo, tal como se recebe uma Criança Divina e esta mulher, simples e amorosa, o salvou.


Nem todas as Crianças Divinas terão pais ou cuidadores amorosos que poderão ajudá-los a fazer a longa caminhada para se tornarem um Rei, Guerreiro, Mago e Amante.


 “O traficante de drogas, o líder político indeciso, o marido que bate na mulher, o chefe eternamente ranzinza, o jovem executivo metido a importante, o marido infiel, o funcionário “capacho”, o orientador de pós-graduação indiferente, o pastor “santificado”, o membro da gangue, o pai que nunca encontra tempo para participar das programações na escola da filha, o treinador que ridiculariza os seus atletas talentosos, o terapeuta que inconscientemente agride o “brilho” de seus clientes e busca para eles uma espécie de normalidade opaca, o yuppie – todos esses homens têm alguma coisa em comum. São, todos, meninos que fingem ser homens. Ficaram assim honestamente, porque ninguém lhes mostrou o que é um homem amadurecido. O tipo de adulto do sexo masculino que eles representam é uma pretensão que a maioria de nós quase não percebe como tal. Estamos continuamente confundindo o comportamento controlador, ameaçador e hostil desse homem com a força. Na verdade, ele está mostrando que no fundo é extremamente vulnerável e fraco, que tem a vulnerabilidade do menino magoado (Gilette e Moore, 1993, p.13) ”.


Enfim, a Criança Divina malconduzida corre o risco de se tornar um Príncipe Covarde ou o Tirano da Cadeirinha Alta, mas isso é tema para um próximo post.

 

Leia sobre o arquétipo do Príncipe Covarde em: REI: O ARQUÉTIPO MASCULINO EM SUA PLENITUDE

Leia sobre o arquétipo do Tirano da Cadeirinha Alta: REI: O ARQUÉTIPO MASCULINO EM SUA PLENITUDE

 

 Bibliografia: Rei, Guerreiro, Mago e Amante - A redescoberta dos Arquétipos Masculinos. Robert Moore, Douglas Gilette, Rio de Janeiro: Campus, 1993.

 

 

 

 



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