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O GRANDE CÃO RABUJENTO: "decifra-me ou eu te devoro"

Atualizado: 15 de ago. de 2020



Conta a lenda que havia um grande cão que andava sem rumo há mais de 500 anos, era conhecido como o Grande Cão Rabugento, não que fosse a princípio mal-humorado, intolerante, irritadiço ou impertinente, ao contrário, ele era de natureza dócil, ganhou esse nome pois carregava em sua pelagem muita rabugem, e não só rabugem, mas também uma colônia de pulgas bem distribuídas e acomodadas em sua couraça canina.


A história da sua origem foi sendo contada de geração em geração e aquela que chegou até nossos dias, pode não ser tão verossímil assim, mas temos a plena convicção que é verdade.


Dizem que o Grande Cão Rabugento chegou no continente acompanhado de seu dono, um rude navegante português que estava à procura de ouro, esmeralda e pau-brasil. Aqui chegando com sua nau deparou com a beleza e a graça das mulheres indígenas e por alguns dias esqueceu-se do ouro, das esmeraldas e do pau-brasil. Deitou e rolou na areia branca das praias virgens do continente a ser devastado e amou aquelas belas mulheres como se não houvesse amanhã.


Enquanto seu dono se refestelava, o Grande Cão Rabugento, sentou-se às margens plácidas do Atlântico para banhar-se na luz do sol fulgente, assistiu resignado o brado sufocado do povo heroico que habitava aquelas paragens.


Povo, este, que a princípio, acreditou que aqueles homens barbados, com vestimentas estranhas eram seres enviados pelos deuses dos mares, eram senhores dos oceanos e a eles nada negaram. Contudo, os enviados dos deuses, com seus braços fortes, desvirginaram as mulheres e as matas nativas, derrubaram pau-brasil, extraíram as esmeraldas e todo o ouro que conseguiram carregar.


O povo heroico foi escravizado e o sol da liberdade abandonou seus filhos e a mãe gentil viu outros povos mamar em seu peito desafiando-a a própria morte, o céu, que um dia foi risonho, formoso e límpido, escureceu e nem mesmo a imagem do Cruzeiro resplandecia.


O rude navegante português deixou um rastro de devastação por onde pisou, carregou tudo o que podia e deixou para trás, além de ruínas, uma índia prenhe e o seu Grande Cão Rabugento.


Zarpou em sua caravela carregada até o mastro e voltou para a sua terra natal, era só um colonizador que queria enriquecer como todos os outros, não era um enviado dos deuses, eram um saqueador, mas já era tarde quando o povo heroico se deu conta que a mãe gentil recebeu em seus seios um parasita.


A índia prenhe violada pelo invasor foi abandonada pelo seu povo que passou a tratá-la como uma traidora que havia se deitado com o inimigo. Exilada, começou a vagar em companhia do Grande Cão Rabugento — o seu dono já não era mais o colonizador que o abandonou a própria sorte, agora pertencia a uma índia violada e repudiada.

E, assim, caminhou lado a lado com a índia violada e repudiada, até que ela envelheceu e morreu, mas o Grande Cão Rabugento, apesar de abandonado, era belo, forte, um impávido colosso, o que fez os olhos das pulgas e da rabugem crescerem sobre ele.


O belo forte impávido colosso era de natureza dócil e deixou que os ectoparasitas fossem tomando conta de sua pelagem, não previu que seu sangue seria sugado até levá-lo à penúria.


Hoje ele anda cambaleando, sabe-se que está infectado por ecto-políticos-parasitas, por rabugem de empresários, de milicianos, de madeireiros, de ignorantes, e também foi identificada uma amostragem de ectoparasitas-terraplanistas. Como se não bastasse estar infectado por esta colônia tão diversificada de insetos sem asas, adaptados ao salto, e, também, pelos ácaros da rabugem, dizem que agora foi infectado por um novo vírus que destroem os órgãos vitais e consomem todo o oxigênio do seu pulmão.


Neste momento, o Grande Cão Rabugento está deitado em berço esplêndido, mas ainda resta um raio vívido de esperança para que não tenha que descer à terra, e para que o azul do céu resplandeça a imagem do Cruzeiro e volte a ser risonho, formoso e límpido, talvez terá que ter braços fortes para lutar contra esse vírus que desafia seu peito a própria morte. (Maria Angelina Marzochi – 19/07/2020 – 17:50hs – Lua Minguante).

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