
Há um momento na vida em que é preciso lançar um olhar para aquele que vive no centro da nossa barca. A vida hipermoderna nos obriga a remar, remar e remar. Remamos em busca de uma profissão, de uma carreira brilhante, de uma vida de sucesso que inclui um bom carro, uma casa confortável equipada com tudo o que há de tecnologia, muitas viagens, etc. Focamos nossa atenção no movimento da água, na direção que a barca segue, e remamos, remamos e remamos.
Depois de saborear todas as conquistas, vem um sentimento de vazio, um sentimento de não pertencer a lugar nenhum, nem mesmo ao próprio corpo. A ansiedade e o medo passam a ocupar esse vazio, e experimentamos agonias impensáveis, que não podem ser nomeadas porque nada sabemos sobre o sentir. Estamos despedaçados como Osíris, que foi dividido em catorze pedaços por Set.
Então, é preciso deter o remo para olhar nos olhos daquele que vive dentro de nossa barca – o nome do deus sentado no centro de tua barca: o Si-mesmo, o Self, o centro ordenador e unificador do inconsciente e do consciente, o ponto criativo onde Deus e o Homem se encontram.*
Ao entrar em contato com o Si-mesmo, poderemos experimentar a nossa totalidade. Então, seremos como Ísis, que juntou todas as partes de Osíris para trazer de volta a sua totalidade. Ao entrar em contato com nossa totalidade, não precisaremos projetar o arquétipo do curador em figuras como João de Deus, Osho (Bhagwan Shree Rajneesh), Prem Baba ou em outros "messias", lobos em pele de cordeiro. Olhe para dentro da tua barca, e lá encontrará o teu curador.
* O Si-mesmo é o centro ordenador e unificador da psique total (consciente e inconsciente), assim como o ego é o centro da personalidade consciente. Ou, dito de outra maneira, o ego é a sede da identidade subjetiva, ao passo que o Si-mesmo é a sede da identidade objetiva. O Si-mesmo constitui por conseguinte, a autoridade psíquica suprema, mantendo o ego submetido ao seu domínio. O Si-mesmo é descrito de forma mais simples como a divindade empírica interna, e equivale à imago Dei. [...]
Há ainda um certo número de outros temas e imagens associados ao Si-mesmo. Temas como unidade, a totalidade, a união dos opostos, o ponto gerador central, o centro do mundo, o eixo do universo, o ponto criativo onde Deus e o homem se encontram...(Edinger, Edward F. Ego e Arquétipo: uma síntese fascinante dos conceitos psicológicos fundamentais de Jung. Cultrix: São Paulo, 2012).
** O poema acima é atribuído ao Livro dos Cantos Potentes que é um texto espiritual e ritualístico associado a tradições místicas e esotéricas. Ele é frequentemente mencionado em contextos que envolvem práticas de magia, meditação e invocações sagradas. Embora não seja tão amplamente conhecido quanto outros textos místicos, como o Livro Tibetano dos Mortos ou os grimórios medievais, ele tem um lugar significativo em certas correntes espiritualistas. é frequentemente associado a tradições que buscam conectar o praticante com forças espirituais, divindades ou energias superiores por meio de cantos, mantras e invocações. Ele pode ter raízes em tradições antigas, como o xamanismo, o hermetismo ou práticas místicas orientais, mas sua origem exata é difícil de determinar, já que ele é mais citado em círculos esotéricos do que em fontes históricas documentadas.
O livro é composto por cantos ou mantras que são considerados "potentes" por sua capacidade de invocar energias, curar, proteger ou elevar a consciência. Esses cantos podem ser usados em rituais, meditações ou práticas espirituais para alcançar estados alterados de consciência, conectar-se com o divino ou manifestar intenções específicas. O texto pode incluir instruções sobre como entoar os cantos, em que momentos específicos eles devem ser usados e quais são os efeitos esperados. Nunca encontrei um exemplar disponível físico ou em PDF.
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