Guilhermina Soares de Freitas parou na frente do espelho e ao procurar por sua imagem deparou com uma outra desconhecida. Olhou para trás e não havia ninguém no quarto além dela mesma. Pensou: "Trocaram meu espelho".
Conferiu a moldura e certificou-se que era o mesmo espelho que sempre estivera ali há quase sessenta anos. Guilhermina trocou de óculos, olhou novamente para o espelho e aquela criatura ainda estava lá.
Procurou pelos seus longos e volumosos cabelos e encontrou penugens igual das aves recém-nascidas. Olhou para a sua pele e não encontrou a suavidade de um pêssego fresco, estava mais próxima de uma ameixa seca sem caroço. Procurou pelas formas arredondadas de seu corpo e constatou que a Art Nouveau havia sido vencida pelo cubismo.
Guilhermina resolveu ir ao médico.
Recebeu do Dr. Hipólito Junqueira o trágico diagnóstico de que havia desenvolvido uma doença autoimune.
Fora acometida de envelhecimento.
Resolveu que lutaria com todas as suas forças.
Guilhermina foi para casa, pediu uma pizza quatro queijos, abriu um vinho francês Pinot Noir, Jacques Charlet, safra 2015 e blindou com a desconhecida do espelho.