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CONVERSAR : trocar versos com alguém

Atualizado: 26 de mar. de 2019


O clima está pesado, as relações estão complicadas, alguns amigos deixaram de ser amigos, famílias ficaram divididas, o Natal passado foi o Natal do silêncio, deletamos da rede social pessoas que descobrimos pensar diferente de nós. Eu mesma, deletei o meu perfil do Facebook por quatro meses, porque precisava de um tempo para mim. Precisei voltar por questões profissionais, mas posso dizer que existe vida além do Facebook e do Instagram.


Venho tentando entender o que está acontecendo no Brasil e no mundo, tenho procurado resposta em autores do pós-guerra para entender sobre a maldade humana, que vem como uma onda de tsunami, leva tudo o que encontra pela frente e depois reflui deixando um rastro de destruição por onde passou.


Hoje encontrei em um velho caderno da faculdade uma anotação sobre a palavra CONVERSAR – (COM+VERSOS) = “TROCAR VERSOS COM ALGUÉM”. Era uma aula sobre Fenomenologia e Existencialismo, o autor estudado era Martin Buber (1878-1965), e as anotações seguem: “A linguagem é a expressão viva do que sou: a fala, minhas expressões, meus gestos, enfim, a forma de comunicar-se no mundo é a expressão de quem eu sou. A linguagem e o pensamento estão implicados no diálogo”.


Em seguida tem uma frase de Ludwig Binswanger (1881-1966): “Por trás de cada palavra falada ou escrita, encontra-se um ser vivente.” Ou seja, estou comunicando a minha vivência imediata através de cada palavra falada ou escrita por mim.


A pergunta que me veio é “o que estamos comunicando nas redes sociais?."


Estamos comunicando o vazio da nossa existência, o nosso desamparo diante do lado sombrio que as pessoas deixaram escapar neste ano eleitoral.


O vazio é o nada, quando me relaciono com o vazio eu sinto angustia, viver angustiado é uma maneira preocupada de viver.


No lugar do nada existiam pessoas, coisas, sonhos que precisaram ser abandonados, deixaram de existir para mim em vida.


Para elaborar essa angustia, eu a transformo em medo, pois o medo é mais palpável: eu sinto medo de acordar e ler jornal, eu sinto medo das reações às minhas postagens na rede social, eu sinto medo de colocar as minhas ideias para qualquer pessoa.


A boa notícia é que o tsunami vai refluir e voltar para o fundo do oceano de onde ele nunca deveria ter saído, ele vem e vai embora assim como a angustia. Vamos ter que juntar os cacos, reconstruir o que foi destruído, pois assim se constitui a vida do ser vivente.


Para aqueles que tem consciência eu proponho a CONVERSA, vamos trocar versos, é o que dá para fazer no momento.


Maria Angelina Marzochi – 17/03/2019

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