Um dia eu tive pressa. Agora ando devagar. Tenho o costume de pegar uma folha qualquer e desenhar um sol amarelo que me faz sorrir, que traz de volta a minha essência, já não preciso mais chorar.
Hoje me sinto mais forte: com cinco ou seis retas faço um castelo e com os olhos percorro suas torres, diante da minha pequenez, tenho a certeza de que pouco sei ou nada sei.
Na torre do castelo desenho uma princesa que será resgatada pelo príncipe, e em um casamento alquímico celebrarão a união dos opostos.
Aprendi a conhecer as manhas da vida. Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva para não me deixar calejar, botas reforçadas para pisar nos espinhos, um casaco para proteger-me dos ventos do outono.
Quando a terra amanhece seca faço chover, e com dois riscos tenho um guarda-chuva e me ponho a colher maçã para rechear a massa. É preciso a chuva para poder florir.
É preciso paz para poder sonhar, se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel, num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu. Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul, vou com ela, viajando, Havaí, Pequim ou Istambul.
É preciso amor para navegar nas águas profundas do oceano, então pinto um barco à vela, que vai pulsando em meu coração e vou tocando a vida, seguindo o vento e tocando em frente, como um velho marinheiro.
Nossa imaginação é livre para viajar por terras distantes e chegar até Pequim.
Tudo o que pintamos no passado vai descolorindo com o tempo, cabe a cada um de nós pegar uma folha de papel em branco e desenhar um novo Sol mesmo sabendo que um dia ele também irá descolorir, traçar cinco retas e construir um novo castelo, que poderá desmoronar e fazer um círculo com o compasso representando o mundo, que também descolorirá.
A maior riqueza do mundo é a nossa riqueza interna, está dentro de nossa morada, que é nosso corpo físico.
Quando estiver difícil resistir, feche os olhos, respire fundo, solte o ar lentamente e comece a viajar, voe como as gaivotas, sobrevoe o mar, os barcos de pesca, sinta o cheiro salgado do mar, sinta a brisa bater no teu rosto.
Imaginar é rico e pertence a cada um de nós e ninguém poderá nos tirar, nosso pensamento é livre como um pássaro e podemos deixar que ele voe para bem longe. (Aquarela/Toquinho e Tocando em Frente/Almir Sater)
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