Sombra é aquela parte da psique inconsciente que está mais próxima da consciência, mesmo que não seja aceita completamente por ela. Por ser contrária a atitude consciente que escolhemos, não permitimos que a sombra encontre expressão na nossa vida; assim ela organiza em uma personalidade relativamente autônoma no inconsciente, onde fica protegida e oculta (Zweid e Abrams (orgs), 1991, p. 28)
Enquanto nós resistimos em não olhar para nós mesmos, a nossa sombra persiste e bate à nossa porta todos os dias.
Como estamos cristalizados, enrijecidos em uma forma de ser, costumamos não ceder e nos mantermos firmes naquilo que acreditamos ser nós mesmos. E, assim, seguimos nosso caminho trilhando em nossa própria soberba, sentimo-nos especiais e o demônio habita nos outros.
Apontamos para os espinhos que se entrelaçam no jardim alheio enquanto nosso jardim é tomado pelas ervas daninhas.
É preciso muita coragem para retirar a erva daninha do nosso jardim. Só um jardineiro amoroso e disposto pode retirar uma a uma, com raiz e bulbo.
Sem dúvida é mais comodo ficar onde estamos, qualquer mudança implica em esforços e medos. Medo do desconhecido, medo daquilo que possa vir a ser.
A primeira vista pode parecer uma erva daninha, mas é preciso olhar com atenção, porque as ervas medicinais também podem brotar em nosso jardim.
A erva daninha nasce espontaneamente em lugares muitas vezes indesejados, as vezes pode ser exótica, como pode também tomar conta de tudo a nossa volta, disputando a água, a iluminação e os nutrientes com as outras plantas.
Sem iluminação suficiente, o que temos é sombra.
Na obscuridade da sombra habita parte de nós, partes que não são necessariamente daninhas, mas que podem ser medicinais.
Para Jung a sombra não consiste apenas de tendências moralmente repreensíveis, mas também demonstra várias boas qualidades, como instintos normais, reações apropriadas, insights realistas, impulsos criativos, etc.
A nossa criatividade pode ter ficado na sombra em virtude de muitas repressões, se não acessamos nossa criatividade, nos tornamos pessoas rígidas.
Quanto maior a fragilidade do nosso ego, mais necessidade temos de incorporar a persona (máscaras) em nossa vida, que protege nosso ego, porém mascara nossa verdadeira personalidade.
Para diferenciar o que é o que, é preciso lançar luz, retirar do caminho os objetos opacos que não permitem que a luz do Sol os atravessem.
A sombra fala da nossa "humanidade"- ou seja, fala de nossas fraquezas, de nossas imperfeições.
Abracá-la, aceitando-a como parte de nós, fala da grandiosidade de "(ser)mos humilde".
Humilde de "húmus", que vem do grego "húmiles", que significa aquela ou aquilo que fica no chão, ora, nos "humanos" habitamos na terra, caminhamos com os pés no chão, e o céu aos deuses pertence.
Abarcar a sombra é uma virtude caracterizada pela consciência de nossas próprias limitações, modéstia e simplicidade.
Muito diferente de caminhar guiado pela soberba, pela "húbris", que demanda muita energia para manter o "status quo" que ilusoriamente criamos.
A vida pode ser mais leve se aceitarmos nossas deficiências, tão característica da raça humana. Lembre-se os deuses sempre punem aqueles que cometem "húbris
hú·bris (grego húbris, -eos, excesso, ardor excessivo, impetuosidade, violência, ultraje) substantivo feminino de dois números
Orgulho excessivo. = ARROGÂNCIA, INSOLÊNCIA, SOBERBA ≠ HUMILDADE, SOFRÓSINA, SUBMISSÃO
"húbris", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/h%C3%BAbris [consultado em 23-07-2018].
Referência: ZWEIG, CONNIE; ABRAMS, JEREMIAH. Ao encontro da sombra: o potencial oculto do lado escuro da natureza humana. São Paulo: Cutrix, 1991.
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