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Foto do escritorMaria Angelina Marzochi

Escolher guiado pela intuição

Atualizado: 19 de ago. de 2018




Em muitos momentos da vida nos vemos diante de uma encruzilhada e somos obrigados a escolher um caminho a seguir.




Na verdade, viemos equipados com um aplicativo, mas não fazemos uso dele, é parecido com um GPS que nos indica uma rota - é quase um Oráculo de Delfos.


Esse aplicativo chama-se intuição, mas nós o deixamos de lado, não fazemos atualizações e preferimos seguir a razão. Para a razão funcionar cem por cento, ela tem que estar conectada com a intuição, senão ela também pode falhar.


É comum sentirmos que alguma coisa não vai dar certo, ou que determinada pessoa não é confiável, mas não damos ouvido para este chamado e passamos a racionalizar os fatos, e as vezes, ou na maioria das vezes a nossa intuição estava correta.


De acordo com o dicionário da língua portuguesa[1] a palavra “intuição” é um substantivo feminino, que fala da capacidade para entender, para identificar ou para pressupor coisas que não dependem de um conhecimento empírico, de conceitos racionais ou de uma avaliação mais específica. Permite o conhecimento claro, direto, imediato da verdade sem o auxílio do raciocínio. É um pressentimento (pré+sentimento), uma capacidade de prever, de adivinhar: ter a intuição do futuro.


Para a teologia é a visão nítida que os santos ou que os bem-aventurados têm de Deus, e para a filosofia é a maneira de se adquirir conhecimento instantâneo sem que haja interferência do raciocínio, é uma forma de conhecimento direto, claro e imediato, capaz de investigar objetos pertencentes ao âmbito intelectual, a uma dimensão metafísica ou à realidade concreta.


Mario Louzã[2], médico psiquiatra, diz que “a intuição é um conhecimento que já foi adquirido e que pode ser recuperado a qualquer momento”, sendo que grande parte da nossa atividade cerebral acontece fora do campo da percepção consciente – o cérebro adquire um determinado conhecimento e posteriormente o coloca no inconsciente.


A palavra intuição tem origem no latim intuere[3], que significa olhar atentamente.


Quando olhamos atentamente para uma pessoa, prestamos atenção na linguagem não verbal, naquilo que não foi dito, mas foi expresso de alguma maneira no olhar, na contração de algum músculo facial ou no movimento corporal.


A leitura não verbal é aprendida antes mesmo de aprendermos a leitura oral, essas informações estão guardadas em nosso inconsciente, só precisamos fazer o downloading e para tal é preciso olhar atentamente.


A Gestalt-terapia nos traz o conceito de awareness (to be aware of – estar ciente de), que é diferente de tomar consciência, é mais do que uma percepção, diz respeito a tornar-se presente no momento presente. É uma forma de experienciar focando no presente da existência em todos os níveis, é tomar posse do processo de existir e compreender como ele ocorre a cada minuto – é o engajamento do indivíduo com a totalidade do seu ser.


Esse processo de presentificação envolve emoções, afetos, pensamentos e sensações corporais, vai muito além de um processo meramente cognitivo.


Então, para acessarmos a intuição e fazermos escolhas assertivas, devemos tomar posse do processo de existir - é um exercício diário, quase utópico, diante de tantos estímulos que nos distraem e nos faz esquecer que habitamos um corpo – um organismo complexo, uma vez que passamos a maior parte do tempo no andar de cima guiados pela razão.


E para concluir, recorro a Alberto Caeiro, homem simples do campo que fala de maneira poética sobre intuere, ou seja, olhar atentamente para o mundo que nos rodeia:


O meu olhar é nítido como um girassol.[4]

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência é não pensar...



 

Referências:


[1] Disponível em <https://www.dicio.com.br/intuicao/> Acesso em 14 ago 2018.


[2] Disponível em <https://www.vix.com/pt/ciencia/539975/intuicao-e-real-e-tem-ate-explicacao-cientifica-saiba-como-usa-la-a-seu-favor> Acesso em 14 ago 2018.


[3] Nascentes, Antenor. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 1955.


[4] O Guardador de Rebanhos. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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